TECNOLOGIAS E CRIANÇAS: COMO EQUILIBRAR O USO DE ECRÃS NA INFÂNCIA

Inês Santos, Psicóloga • 15 de abril de 2025

Vivemos numa era digital onde os ecrãs fazem parte do quotidiano das famílias.

Nesta e em qualquer condição atípica, a intervenção precoce e as estratégias para a inclusão escolar são fundamentais para garantir o melhor desenvolvimento, promovendo a integração e participação plena da criança e o desenvolvimento do seu melhor potencial. 


Desde a televisão aos tablets, passando pelos smartphones e computadores, as crianças têm acesso a uma variedade de dispositivos desde tenra idade. Embora a tecnologia ofereça oportunidades educativas e de entretenimento, é fundamental encontrar um equilíbrio saudável, tendo em conta os efeitos nefastos do uso excessivo de ecrãs já estudados.


Com base nas recomendações da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria (SPNP) divulgadas em setembro de 2024, o uso excessivo de ecrãs em crianças e adolescentes pode ter efeitos negativos no(a):


Desenvolvimento Neuropsicológico
  • Défice de atenção e hiperatividade: A exposição prolongada a ecrãs está associada a dificuldades de concentração e aumento de comportamentos impulsivos, comprometendo o desempenho académico e as interações sociais;
  • Atraso no desenvolvimento da linguagem: A redução das interações verbais com adultos e pares, devido ao tempo excessivo em frente a ecrãs, pode atrasar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem nas crianças;
  • Comprometimento do desenvolvimento motor: O tempo excessivo em atividades sedentárias, como o uso de dispositivos eletrónicos, pode limitar o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais.


Saúde Mental e Comportamental
  • Perturbações do sono: A utilização de ecrãs, especialmente antes de dormir, pode interferir na qualidade e duração do sono, afetando o bem-estar geral da criança;
  • Isolamento social e dependência digital: O uso excessivo de dispositivos pode levar ao isolamento social, reduzindo as interações presenciais e aumentando o risco de dependência de tecnologia;
  • Diminuição da empatia e da autorregulação emocional: A substituição de interações humanas por interações digitais pode afetar negativamente o desenvolvimento da empatia e a capacidade de gerir emoções.


Desempenho Escolar
  • Redução do rendimento académico: O tempo excessivo em ecrãs pode diminuir o tempo dedicado ao estudo e às tarefas escolares, resultando em menor aproveitamento académico;
  • Dificuldades de concentração: A exposição constante a estímulos digitais pode afetar a capacidade de concentração e foco nas atividades escolares.


Recomendações da SPNP para o Uso de Ecrãs por Crianças

  • Até aos 3 anos: Evitar o uso de ecrãs, exceto para videochamadas supervisionadas. A televisão pode ser permitida até 30 minutos diários, com conteúdo adequado e na presença de um adulto;
  • Dos 4 aos 6 anos: Limitar o uso de ecrãs a 30 minutos por dia, com programação de alta qualidade e sempre assistida por adultos que ajudem a contextualizar o conteúdo. O controlo de canais ou mudança de vídeos não deve ser acessível à criança de forma autónoma;
  • Dos 7 aos 11 anos: Estabelecer limites de utilização até 1 hora por dia, garantindo que o uso de ecrãs não interfere em nenhuma área da saúde e/ou do bem-estar;
  • Dos 12 aos 15 anos: Limitar o tempo de exposição diária aos ecrãs táteis até 2 horas, assegurando que não prejudica outras atividades fundamentais;
  • Dos 16 aos 18 anos: O tempo de ecrã não deve ultrapassar as 3 horas diárias, mantendo o equilíbrio com outras atividades essenciais;


Considerações Importantes


  • Controlo Parental: Os conteúdos visualizados devem ser de qualidade e controlados pelos pais, de forma a adaptar à idade e ao nível de autonomia; é dever dos pais promover uma utilização positiva, sentido crítico em relação à informação veiculada, assim como alertar para os riscos da partilha de dados pessoais;
  • Contexto de Utilização: A utilização de ecrãs não deve nunca comprometer hábitos saudáveis, como atividade física regular, interação social, refeições em família, tempo de descanso, hábitos de leitura, etc.;
  • Controlo comportamental: Os ecrãs não devem ser utilizados para parar birras, para mantes as crianças quietas e em silêncio em determinados locais, nem para evitar o tédio;
  • Redes Sociais: A sua utilização deve ser permitida apenas a partir dos 16 anos, conforme a legislação portuguesa.


Estratégias Recomendadas pela SPNP para Gerir o Tempo de Ecrã

  • Definir Limites Claros e Coerentes: Estabeleça regras objetivas sobre quando, quanto tempo e em que contextos os ecrãs podem ser utilizados. Por exemplo, limitar o tempo diário conforme a idade e reservar os ecrãs para depois das responsabilidades escolares e das atividades físicas.
  • Ser um Modelo Positivo de Uso Digital: As crianças aprendem por imitação. Os adultos devem demonstrar uma utilização equilibrada da tecnologia, evitando o uso de dispositivos durante as refeições, conversas familiares ou antes de dormir.
  • Recorrer a Ferramentas de Supervisão: Utilize configurações e aplicações de controlo parental para ajustar o tempo de utilização, bloquear conteúdos impróprios e acompanhar os hábitos digitais das crianças, respeitando a sua privacidade e idade.
  • Estimular Atividades Não Digitais: Promova o envolvimento das crianças em atividades como jogos de tabuleiro, desporto, leitura, música e brincadeiras livres. Estas atividades são fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional, criativo e social.
  • Criar Momentos Livres de Ecrãs em Família: Institua rotinas familiares sem dispositivos, como nas refeições, no tempo antes de dormir e durante passeios ou viagens, de modo a reforçar os laços afetivos e promover a comunicação presencial.
  • Fomentar o Diálogo e a Literacia Digital: Mantenha uma comunicação aberta com as crianças e adolescentes sobre o uso da tecnologia. Fale sobre os riscos (como o cyberbullying, extorsão e coação digitais) e os benefícios, e incentive a autorreflexão sobre os seus hábitos online.


Conclusão

Enfatiza-se a importância de estabelecer limites claros e adequados ao uso de ecrãs, promovendo atividades que envolvam interação social, atividade física e desenvolvimento cognitivo. A supervisão parental e a criação de ambientes familiares equilibrados são essenciais para mitigar os efeitos negativos associados ao uso excessivo de tecnologia por crianças e adolescentes.

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