Um despiste de dislexia deve ser executado por um psicólogo e um terapeuta da fala porque cada um destes profissionais detém conhecimentos e competências específicas que são essenciais para uma avaliação mais abrangente e precisa.
O Psicólogo
- Avaliação Cognitiva: é qualificado para realizar testes de inteligência, essenciais ao despiste desta perturbação do neurodesenvolvimento, uma vez que caso se identifique incapacidade intelectual, o diagnóstico de Dislexia não poderá ser estabelecido. Avalia, ainda, outras dimensões cognitivas como a memória de trabalho e a nomeação rápida que se encontram tipicamente afetadas em casos de Perturbações Específicas da Aprendizagem (PAE).
- Aspetos Emocionais e Comportamentais:
avalia os aspetos emocionais e comportamentais recorrentemente associados à dislexia, como a baixa autoestima, ansiedade e comportamentos de evitamento que podem surgir devido às dificuldades de leitura.
- Diagnóstico Diferencial: a sua formação permite distinguir a dislexia de outras condições que podem apresentar sintomatologia semelhante, garantindo um diagnóstico preciso.
O Terapeuta da Fala
- Avaliação da Linguagem: avalia as habilidades linguísticas orais e escritas, incluindo a consciência fonológica, que é frequentemente deficitária em indivíduos com dislexia. Além disso, também faz a avaliação de competências de perceção e discriminação auditiva com o objetivo de despistar outras possíveis origens das dificuldades manifestadas.
- Competências de Leitura e Escrita: aplica provas específicas que avaliam a fluência e precisão leitora, compreensão leitora e escrita, identificando as áreas onde residem os maiores défices. Esta avaliação permite, com maior clareza e precisão, identificar qual(ais) a(s) via(s) de leitura que poderão estar afetadas (via fonológica e/ou lexical).
A Abordagem Multidisciplinar
- História do Desenvolvimento:
obter um histórico detalhado do desenvolvimento da criança é crucial para entender quando e como as dificuldades surgiram e se há outros fatores de risco envolvidos. Cada um dos técnicos centra a sua recolha de informação dentro da especificidade da sua área de atuação.
- Perspectiva Holística:
Juntos, o psicólogo e o terapeuta da fala proporcionam uma visão holística acerca das competências e capacidades da criança, abordando tanto os aspetos cognitivos como os específicos de linguagem. É aqui que se cruzam as informações relativas às capacidades intelectuais, neuropsicológicas e linguísticas para o estabelecimento ou exclusão do diagnóstico de PAE.
A Intervenção
- Direta: da colaboração entre estes profissionais culmina o estabelecimento de um plano de intervenção mais completo e eficaz, abordando todas as áreas que se encontram comprometidas, nomeadamente as habilidades neuropsicológicas e competências de leitura e escrita.
- Comunicação com a Família e a Escola:
possibilita um trabalho multidisciplinar, onde todos os intervenientes são incluídos no processo, aplicando estratégias e orientações previamente estabelecidas que favoreçam o progresso da criança.
Em suma, a avaliação realizada em colaboração por um psicólogo e um terapeuta da fala é essencial para garantir um diagnóstico preciso e um plano de intervenção eficaz, abordando todas as dimensões da dislexia, formalmente designada no DSM 5 como Perturbação da Aprendizagem Específica com Défice na Leitura. Contudo e para que o diagnóstico seja atribuído de forma mais segura, é importante que haja um período de intervenção não inferior a 6 meses, para que se avalie se as dificuldades são ou não resistentes face à estimulação realizada.
Não se confirmando o diagnóstico, poderá verificar-se a necessidade de encaminhamento para outras especialidades, por forma a determinar a génese das dificuldades apresentadas (ex.: Pedopsiquiatria, Pediatria, Terapia Ocupacional, entre outras).
Moura, O., Pereira, M., & Simões, M. R. (Coordenadores). (2018) Dislexia: Teoria, avaliação e intervenção. Lisboa: Lidel/Pactor