A arte de fazer NICLES BATATÓIDES

Catarina da Isabel, Pós-Graduada em Neurodesenvolvimento e Pediatria, Terapeuta da Fala • 9 de agosto de 2024

uma reflexão sobre a importância do tédio para o Neurodesenvolvimento infantil 

Hoje, numa pequena viagem de férias com a minha filha, para um conhecido parque temático dei por ela, atenta, a olhar a paisagem...

Daí a um pouco perguntou: “Mamã, porque é que algumas árvores não têm folhas?” 

Com a minha faceta de mãe-sabe-tudo, expliquei-lhe, o melhor que pude, as diversas razões para algumas árvores que via da janela do carro não terem as ditas folhas. Uma série de questões se foram colocando até que ela, por fim, de curiosidade satisfeita, adormeceu. Depois dei por mim naquela viagem de quase uma hora a reflectir também sobre o desabrochar das folhas, flores e frutos das nossas pequenas plantinhas: as nossas crianças. 

Este pensamento levou-me a um tema cada vez mais importante para o desenvolvimento humano, que é a importância do tédio e como através dele temos espaço para pensar, criar, inovar e desenvolver.


A importância de passarmos tempo com nós próprios e o quanto isso é importante quer para os mais pequenos, quer para os graúdos. Nos dias que correm as crianças (e os adultos!) estão sempre ocupadas com diferentes demandas do dia-a-dia. Ora na escola, ora no ATL, ora nas explicações, ora no judo, piano, basquetebol, ballet, esgrima, karaté, jiu-jitsu, natação, ginástica, patinagem, hip hop, futebol, guitarra, equitação, etc. etc. etc.. 


Será que as nossas crianças ainda têm tempo para brincar? E tendo tempo para brincar, será que o sabem fazer sem brinquedos, jogos, telemóveis, tablets, consolas e Cia.? 


Como se comportam as nossas crianças sem os 1001 distratores de que dispomos hoje em dia para entreter os miúdos? 

Passamos a vida a ocupá-los, estimulá-los com tudo e mais alguma coisa que acreditamos ser benéfico para o seu desenvolvimento e aprendizagem, mas tal como isso é importante, também o é não fazer NADA, ZERO, NICLES.

É neste nada, no vazio, que a criança tem espaço para inventar, imaginar, sonhar, reflectir e aprender sobre, por exemplo, as árvores e as suas folhas ou mesmo para desenvolver a capacidade de brincar sozinha. 


Muito se falou sobre este tema com a chegada da pandemia em 2020 e o consequente isolamento que todos passámos e com o qual crianças e pais tiveram de lidar. Mas será que as atividades extra-curriculares não são importantes e estimulantes? Brinquedos, tecnologia e equipamentos variados? 

A música, o desporto, a dança, os brinquedos e equipamentos electrónicos como computadores, televisão ou tablets continuam a ter o seu papel e relevância para as nossas crianças mas a ideia chave é: Equilíbrio


Não podemos deixar que ocupem todo o tempo dos pequenos pois é do ínfimo, do vazio, que se cria o Big Bang. 

Então e por onde começar ?!


Bem sei que é difícil tirar-nos a nós e aos nossos filhos desta rotina de ocupação constante, mas que tal começar por estas férias e não levar tudo e mais alguma coisa para os manter ocupados? Que tal aproveitar as viagens de carro para os deixar olhar as paisagens e questionarem as coisas da vida, refletir e pensar, em vez de por exemplo seguirem viagem entretidos a ver um filme no tablet? Que tal aproveitar estas mesmas viagens para inventar jogos em família enquanto o carro não chega ao seu destino?


Vamos criar crianças criativas, felizes e capazes de questionar os porquês do hoje e do amanhã. 

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