A pandemia e os períodos de confinamento que todos vivenciamos, obrigaram a procurar formas rápidas e eficazes para permitir a continuidade do ensino, tendo sido um facilitador para o aumento do uso de tecnologias que se verifica nas escolas.
Sabe-se também, que as crianças em idade escolar pertencem a uma atual geração que cresceu com esses meios tecnológicos como parte das suas vidas. Consequentemente, com o aumento da exposição a novas tecnologias, alguns estabelecimentos continuam a adotar o uso desses dispositivos na prática escolar, no qual a escrita manual regular deixa de fazer parte do dia a dia em sala de aula.
No entanto, considera-se que a escrita manual é um processo importante para o desenvolvimento da criança. É uma forma de comunicar. Consiste num processo de gestão de linguagem escrita, no qual a pessoa tem que coordenar os olhos, braços, mãos, postura do tronco, os dedos para agarrar no lápis e a formação das letras. Esta não envolve apenas as competências motoras, mas sim o uso simultâneo do nosso cérebro, planeamento e controlo motor, entre outras capacidades.
A aquisição da escrita é um processo importante para o desempenho nas áreas de ocupação, principalmente na Educação, Trabalho e Participação Social. Assim, o desenvolvimento da escrita de uma criança pode fornecer pistas para problemas de desenvolvimento que possam existir e que prejudiquem a aprendizagem desta (AOTA, 2008).
As competências de motricidade fina necessitam de estar desenvolvidas para um desempenho de escrita eficaz, assim como, ao escrever estamos também a desenvolver essas competências.nEstas são também fundamentais para a execução das atividades de vida diária, nomeadamente as tarefas relacionadas ao autocuidado (por exemplo, pentear, lavar os dentes, alimentação com talheres, etc.) assim como, para as aptidões académicas (capacidade para desenhar, pintar, escrever e trabalhos manuais com recorte e colagem).
O ensino online é já uma realidade em várias zonas do nosso país, tal como referido anteriormente. Assim, são usados os meios tecnológicos para potenciar uma maior adesão dos alunos e maior disponibilidade de informação e recursos, tornando o processo de aprendizagem mais dinâmico, inovador e, consequentemente, motivador.
Não negligenciando todos os aspetos relevantes e positivos dos dispositivos tecnológicos, que nalgum momento deverão ser introduzidos, no entanto, têm funcionado numa forte relação de causa-efeito, criados para facilitar ao máximo a vida
de quem os utiliza. A introdução destes em meio escolar, recorrendo ao seu uso frequente, pode prejudicar não só o desenvolvimento neuromotor da criança pelas razões mencionadas acima, mas também, sensorial. Tal acontece, pois estamos a limitar a oportunidade da criança desenvolver a escrita e a aprendizagem de todas as fases do processo, mexer, sublinhar, folhear um livro, rodear, manusear diferentes materiais (canetas, lápis, borrachas, afiadeiras), sentir o cheiro que os mesmos possam transmitir, oferecendo também um menor input tátil, e diminuindo a resolução de problemas práticos, principalmente se a criança estiver numa fase inicial do processo de escrita.
Para concluir, considera-se que os dispositivos tecnológicos devem ser introduzidos sim, no entanto, como tudo na vida, deve ser de forma moderada e não substituir de total forma o uso de manuais escolares e de materiais de escrita.