Disfagia e o seu impacto na qualidade de vida

Inês Januário • 3 de outubro de 2023

Este “transporte” e manipulação do alimento envolve uma grande coordenação entre vários músculos e estruturas estomatognáticas, quer a nível motor quer a nível sensorial.

A deglutição é uma função complexa composta por diversas fases, que envolve aspetos como proprioceção, sensibilidade, tónus, velocidade, precisão, amplitude e coordenação dos movimentos. Tem como principal objetivo a chegada do alimento/líquido desde a cavidade oral até ao trato gastrointestinal (nutrição e hidratação).


À presença de alterações/comprometimentos em uma ou mais fases da deglutição que se traduza em défices/alterações ao nível da nutrição, hidratação e que, por sua vez, influencie negativamente o envolvimento do indivíduo em situações sociais, dá-se o nome de disfagia.


A Disfagia pode estar relacionada com diversas patologias, nomeadamente AVC (Acidente Vascular Cerebral), TCE (Traumatismos Crânio-Encefálicos), cancro cabeça- pescoço, doenças neurodegenerativas (Parkinson, Alzheimer, Doença do Neurónio Motor) entre outras que comprometam estruturas/músculos envolvidos na dinâmica da deglutição.

O próprio processo de envelhecimento pode estar relacionado com uma perda de força, sensibilidade e coordenação e pode levar a uma presbifagia (perda de capacidades relacionadas ao processo de envelhecimento) ou mesmo disfagia.


Grande parte das vezes, as refeições das Pessoas com dificuldades/alterações a este nível têm adaptações de consistência/textura para que seja seguro para a mesma, acabando por dificultar a partilha de refeições com os outros. Essas alterações podem afetar tanto o sabor, como o aspeto da refeição e, como bem sabemos, “os olhos também comem”.



Muitos dos encontros sociais de hoje em dia envolvem comida/refeições e isso, para uma pessoa com dificuldades na alimentação e hidratação acaba por se tornar algo bastante complexo e incómodo.


Assim sendo, a disfagia tem, por vezes, um impacto negativo na qualidade de vida da Pessoa e também dos familiares/cuidadores, quer a nível emocional, quer a nível social. Pode causar perda de vontade em comer/hidratar-se, ansiedade e/ou pânico na altura das refeições, bem como sentimento de perda de autonomia. Para além disso, pode levar ao isolamento social, uma vez que a Pessoa tende a evitar encontros sociais com os amigos/colegas, uma vez que envolve uma certa logística/organização e a própria Pessoa tem noção de que poderá não desfrutar da mesma forma.


Quando contactamos com Pessoas com Disfagia é importante ter em atenção estes aspetos de forma a que os mesmos tenham o menor impacto possível na sua qualidade de vida.




Referências Bibliográficas:

Ekberg, O., Hamdy, S., Woisard, V., Wuttge-Hannig, A., & Ortega, P. (2002). Social and Psychological Burden of Dysphagia: Its Impact on Diagnosis and Teatment. Dysphagia, 139-146.

SPTF (2020). Dicionário Terminológico de Terapia da Fala. Lisboa: Papa-Letras. Learned, S. (2014). Understanding Dysphagia: The Social and Emotional Impact . University of Arkansas, Fayetteville.


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