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O Mutismo Seletivo: uma Perturbação de Ansiedade

Renata Santos (Terapeuta da Fala) e Sofia Moreira (Psicóloga) • 31 de outubro de 2024

Outubro é o mês da consciencialização do mutismo seletivo!

O mutismo seletivo é uma Perturbação de Ansiedade que pode ter um impacto significativo na vida da criança e de toda a família, sendo importante conhecê-lo melhor.


É um quadro em que existe uma ausência de linguagem verbal em determinados contextos, nomeadamente na escola, em que é socialmente esperado que que a criança fale. A ausência de linguagem verbal acontece em situações sociais, não dependendo do controlo da criança ou jovem e em que existe capacidade de desenvolver o seu discurso de forma adequada noutras situações.

Uma criança com mutismo seletivo pode falar com outras crianças e não falar com adultos, pode falar em casa e não na escola, ou pode mesmo falar na presença de algumas pessoas num contexto específico, mas não o fazer na presença de outras.


O mutismo seletivo surge normalmente de forma mais expressiva e significativa no contexto escolar, podendo afetar o seu desempenho ao nível académico e também social, sendo a escola um contexto de intervenção importante. 

A intervenção deverá incluir apoio individual à criança, existindo uma avaliação e diagnóstico personalizados assim como um trabalho conjunto entre os pais, técnicos e escola, sendo que quanto mais precocemente se intervir maior será a probabilidade de sucesso.


De acordo com a literatura, para além da ansiedade, parecem existir características comuns às crianças que apresentam este quadro, existindo normalmente distorções cognitivas, rigidez de pensamento e crenças resistentes que contribuem para a manutenção do mutismo seletivo. A comunicação emocional normalmente é difícil para estas crianças, ao nível da leitura e interpretação das situações assim como na sua verbalização, sendo geralmente crianças inibidas e com muitas dificuldades ao nível das suas competências sociais. A dificuldade ao nível da reestruturação cognitiva e generalização de estratégias poderá ser condicionante da eficácia da terapia, assim como a aprendizagem de uma comunicação não verbal eficaz, em que não seja necessária a linguagem oral. 


Estudos indicam que na grande maioria das crianças com mutismo seletivo não existem dificuldades de linguagem, sendo que as mesmas não são desencadeadoras mas que, em alguns casos, poderão intensificar o problema. É importante que exista uma avaliação completa da comunicação e da fala, considerando o contexto social em que a criança está inserida, assim como a identificação dos ambientes que condicionam a comunicação da criança.



Existem algumas estratégias que deverão ser tidas em conta:

 

  • É crucial que exista um ambiente acolhedor, com incentivos e procurar incluir a criança em atividades em que não seja determinante a existência de comportamento verbal, nomeadamente ao nível de perguntas fechadas de “sim/não”.
  • Durante a intervenção poderá ser incorporado o uso de recursos visuais e gestuais, com imagens, cartões de comunicação e gestos para facilitar a comunicação, inicialmente sem a necessidade de palavras e depois incentivar a produção verbal a partir dessas interações não verbais.
  • A promoção de pequenos grupos de interação com colegas, com a utilização de jogos e atividades grupais que incentivem a comunicação informal serão uma mais valia para o desenvolvimento das suas competências sociais.
  • Perante uma situação potencialmente ansiogénica, poderá ser dada a oportunidade de a realizar a atividade/tarefa com um grupo mais pequeno, sendo fundamental que não exista nenhum tipo de ameaça ou castigo em associação com o facto da criança não falar.
  • Um espaço terapêutico onde a criança se sinta confortável e à vontade para se expressar deverá ser estabelecido, assim como a utilização de técnicas de desensibilização para diminuir a ansiedade em relação à fala.
  • reforço positivo perante qualquer tentativa de comunicação, mesmo que seja através de gestos ou expressões faciais, é de extrema importância. É fundamental celebrar pequenos sucessos para aumentar a confiança da criança.
  • integração com outros profissionais em equipa multidisciplinar é facilitador do processo, com um plano de intervenção que aborde aspetos emocionais, sociais e de comunicação, potenciando o processo educativo da criança. É importante a monitorização do progresso e o ajustamento de estratégias, sendo um processo gradual. 
  • O adulto deve ser paciente com o processo, transmitindo apoio e um ambiente seguro, sendo importante a educação sobre o mutismo seletivo e a participação também em contexto familiar em atividades que envolvam a comunicação. O envolvimento da família é fundamental!


Como posso ajudar o meu filho?
  • ​​Não force a criança a falar;
  • ​​Elabore formas alternativas de comunicação através de símbolos, gestos ou escrita;
  • ​​Evite que a criança seja o centro das atenções, sobretudo em contextos potencialmente ansiogénicos para ela;
  • ​Identifique possíveis colegas e amigos com quem exista uma maior compatibilidade facilitadoras de jogos e brincadeiras fora e dentro do contexto familiar;
  • ​​Favoreça a prática de atividades desportivas que permitam a interação social e o aliviar de algumas tensões;
  • ​​Procure atribuir pequenas tarefas, dentro da rotina familiar, que potenciem a responsabilidade e a autonomia da criança, assim como situações de interação verbal e não verbal (ex: ir à padaria, ir ao quiosque comprar o jornal).
  • ​​Reforce a criança sempre que houver um aumento no seu comportamento verbal, procurando que o reforço seja consistente e preferencialmente dirigido às preferências da criança (como elogios, abraços, passeios, etc.)

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