PERTURBAÇÕES DA PERSONALIDADE
Cerca de 10% da população em geral tem um diagnóstico de Perturbação da Personalidade.

A personalidade advém da combinação de fatores biológicos, sociais, culturais e psicológicos.
Este conjunto de características fazem parte do self que diferencia cada pessoa e refletem-se na forma como esta se percepciona a si, aos outros e como se envolve com o meio.
Não há uma definição única para a personalidade, mas pode afirmar-se que é um padrão relativamente estável e permanente de traços e características que dão consistência e individualidade ao comportamento. Isto é, os traços contribuem tanto para a
individualidade do comportamento como para a consistência deste ao longo do tempo.
As características da personalidade constituem uma Perturbação da Personalidade quando são inflexíveis e inadaptadas e causam sofrimento subjetivo e um comprometimento funcional significativo. Assim, uma Perturbação da Personalidade pode ser entendida como “um padrão estável de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura, é invasiva e inflexível, tem início na adolescência ou no início da idade adulta, é estável ao longo do tempo e origina mal-estar ou incapacidade” (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 2013, p.771).
Existem dez diagnósticos de Perturbações da Personalidade diferentes, que pela partilha e semelhança de algumas características podem agrupar-se em três grupos:
Cluster A – os excêntricos e estranhos
- Perturbação Paranóide da Personalidade – os indivíduos estão sempre desconfiados e interpretam os motivos dos outros como maldosos.
- Perturbação Esquizóide da Personalidade – predominância de um padrão de alheamento da vida social e restrição da expressividade emocional.
- Perturbação Esquizotípica da Personalidade – presença de distorções cognitivas ou perceptivas, comportamento excêntrico e grande instabilidade nos relacionamentos interpessoais.
As Perturbações da Personalidade deste grupo começam a notar-se logo na infância e adolescência com comportamentos de solidão, mau relacionamento com os colegas e mau aproveitamento escolar. Crianças com Perturbação Paranoide e Esquizotípica da Personalidade podem parecer bizarras ou excêntricas e apresentar pensamentos e linguagem peculiar.
Cluster B – os dramáticos, emotivos e inconstantes
- Perturbação Antissocial da Personalidade – padrão de desrespeito e violação pelos direitos dos outros.
- Perturbação Borderline da Personalidade – os indivíduos apresentam grande instabilidade nas relações interpessoais, na sua autoimagem e nos afetos demonstrados, com impulsividade marcada.
- Perturbação Histriónica da Personalidade – emocionalidade exagerada e procura constante de atenção por parte dos outros.
- Perturbação Narcísica da Personalidade – indivíduos sem empatia, com sentido marcado de grandeza, superioridade e necessidade de admiração.
As pessoas com Perturbação Narcísica da Personalidade têm especiais dificuldades de adaptação no início das limitações físicas e profissionais inerentes ao processo de envelhecimento. A Perturbação Borderline da Personalidade apresenta um padrão de
instabilidade crónica no início da idade adulta, com episódios graves de descontrolo afetivo e dos impulsos. Por outro lado, a Perturbação Antissocial da Personalidade tem uma evolução crónica, mas pode ser menos evidente com o avançar da idade; contudo, o seu diagnóstico só pode ser dado a indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos.
Cluster C – os ansiosos e medrosos
- Perturbação Evitante da Personalidade– indivíduos que se inibem socialmente e estão sempre hipersensíveis à avaliação negativa dos outros.
- Perturbação Dependente da Personalidade– são incapazes de tomar decisões, preocupam-se excessivamente com a possibilidade de serem abandonados e apresentam um comportamento dependente e submisso.
- Perturbação Obsessivo-Compulsiva da Personalidade– preocupação excessiva com a ordem, o perfeccionismo e o controlo.
Os diagnósticos de Perturbação Evitante e Dependente da Personalidade devem ser dados com muita cautela em crianças e adolescentes, uma vez que os comportamentos tipicamente demonstrados nestes quadros podem ser considerados normais em algumas fases do desenvolvimento.
De acordo com o DSM-5, as Perturbações da Personalidade do cluster C são mais prevalentes (6%), seguidas do cluster A (5,7%), sendo as do cluster B as menos prevalentes (1.5%). A literatura reporta, ainda, que as Perturbações Borderline e Dependente são mais prevalentes no sexo feminino enquanto as Perturbações Antissocial, Esquizotípica, Esquizoide e Narcísica são mais prevalentes no sexo masculino.
A Perturbação Borderline da Personalidade é a que apresenta maior comorbilidade com outras Perturbações da Personalidade.
Mas então, se o diagnóstico de Perturbação da Personalidade consiste em características estáveis e inflexíveis, é possível ter resultados com a intervenção psicológica nestes casos? Sim!
Um processo de avaliação completo permite um diagnóstico correto de Perturbação da Personalidade que possibilita ao indivíduo receber o apoio de que necessita. A intervenção psicológica não se foca na eliminação ou mudança das características da pessoa, uma vez que estas são inflexíveis, mas sim na modelação da resposta emocional e comportamental às diversas situações. A terapia de grupo e a intervenção junto da família são também essenciais para um bom prognóstico e progresso da intervenção psicológica.
O diagnóstico será permanente, contudo, a pessoa e o grupo de suporte podem adquirir e desenvolver estratégias que diminuam o impacto deste no seu funcionamento e nas suas rotinas, melhorando a sua qualidade de vida e a dos que a rodeiam.