Possivelmente já lhe aconteceu sair de casa e quando chega ao carro fica na dúvida se trancou a porta de casa... volta atrás, confirma que a porta está trancada e segue com a sua rotina, certo?
Agora imagine chegar ao carro pela segunda vez e ficar com a mesma dúvida e ter de voltar novamente atrás; volta ao carro e tem de ir confirmar uma terceira vez que a porta ficou trancada; sente necessidade de confirmar uma quarta, e quinta, e sexta vez... consegue imaginar o impacto dessa obsessão na sua rotina?
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC), tal como o nome indica, caracteriza-se pela presença de obsessões e compulsões. As obsessões consistem em pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experienciados como intrusivos e inapropriados, provocando ansiedade e mal-estar. Não são apenas preocupações excessivas de problemas reais, e a pessoa reconhece que são produtos da sua mente, pelo que tenta ignorar, suprimir ou neutralizar com outro pensamento ou ação.
As compulsões são, então, comportamentos (levar as mãos, ordenar, verificar, etc.) ou atos mentais (rezar, contar, repetir palavras, etc.) repetitivos que a pessoa sente necessidade de realizar em resposta a uma obsessão, com o objetivo de evitar ou reduzir o mal-estar.
O conteúdo específico das obsessões e compulsões varia de pessoa para pessoa, contudo, há certas dimensões comuns no quadro da POC, nomeadamente a limpeza (obsessão de contaminação e compulsões de limpeza), simetria (obsessões de simetria e compulsões de repetição, organização e contagem), pensamentos proibidos ou tabu (obsessões agressivas, sexuais e religiosas e compulsões relacionadas), e violência (por exemplo, medo de magoar-se a si próprio ou aos outros e compulsões de verificação relacionadas).
A Perturbação Obsessivo-Compulsiva e perturbações relacionadas diferem das preocupações e dos rituais considerados normais do desenvolvimento, por serem excessivas ou persistirem para além dos períodos de desenvolvimento adequados.
As pessoas com POC variam no grau de insight que têm sobre a certeza das suas crenças subjacentes às suas obsessões e compulsões. Muitas têm um insight bom ou razoável (no fundo, acreditam que nada de mal irá acontecer ou que pode ou não
acontecer caso não cedam às suas obsessões); algumas têm um insight pobre (acreditam que provavelmente irá acontecer algo de mal se não cederem às obsessões); e poucas têm insight ausente (estão convencidos de que irá de certeza acontecer algo de mal quando não cedem às suas obsessões). Ao longo do tempo e desenvolvimento, o insight pode também variar na própria pessoa.
Uma pessoa com POC pode, então:
Os sintomas podem ter um início súbito ou surgir após um evento de vida stressante. É uma perturbação que pode apresentar um desenvolvimento flutuante ou contínuo e, entre 40-50% dos casos, observam-se melhorias moderadas na apresentação do quadro. O prognóstico mostra-se mais positivo quando há uma boa rede de suporte social, quando se identifica um evento que precipitou o aparecimento dos sintomas e quando os sintomas são episódicos.
Além da intervenção farmacológica em indivíduos com este diagnóstico, a intervenção psicológica cognitivo-comportamental é de extrema importância para um melhor prognóstico. Esta pretende ajudar a pessoa a reconhecer os sinais e interpretar os danos causados pela POC, planeando estratégias que ajudem a conviver com as obsessões e compulsões.
As pessoas sentem-se reconfortadas por terem, pela primeira vez, uma explicação para os seus problemas e têm na terapia cognitivo-comportamental o espaço para adquirir e desenvolver as estratégias e competências de que precisam.