O Abecedário da Amamentação
descubra os fundamentos e benefícios desse vínculo especial entre mãe e bebé. Desde os primeiros momentos até os desafios e soluções, explore este guia completo para uma amamentação feliz e saudável.

A de Amamentar
amamentar
[O infinitivo é passível de ser usado como substantivo a indicar ação e efeito]
v. tr.
(1) Dar de mamar a. Criar ao peito. ≃ aleitar
(2) fig. Alimentar, nutrir.
(3) Dar vida, alento.
(4) fig. Dar ou receber mimos.
[de a- + mama + -entar]
B de Bem-estar
Amamentar trás benefícios psicológicos para a mãe e para o bebé. Uma amamentação prazerosa, olhos nos olhos, o contato contínuo entre mãe e bebé fortalecem os laços afetivos. A amamentação é uma forma muito especial de comunicação entre a mãe e a criança e uma oportunidade para o bebé aprender muito cedo a comunicar com afeto e confiança.
C de Colostro
O colostro corresponde à fase inicial do leite materno que é altamente concentrado, antes de se transformar em leite de transição e posteriormente leite maduro, durante o primeiro mês de vida do bebé. Repleto de proteínas e rico em nutrientes, é composto por fatores imunológicos, proteínas, açúcares e gorduras, por isso é chamado muitas vezes de "vacina natural do bebé".
D de Desmame
Pensar e falar em desmame é tão válido e importante como falar em amamentar. O desmame pode ser natural e guiado pelo bebé ou pode acontecer quando a mãe já não está feliz ou confortável com este procedimento, ou por muitos outros motivos. Existem formas de proceder a um desmame gentil para mãe e bebé, sem atitudes radicais. Na dúvida procure um profissional especializado.
E de Ecológico
Amamentar também beneficia o meio ambiente. A amamentação é uma forma de alimentação sustentável. Como o leite é produzido pela mulher e oferecido diretamente ao bebé, não precisa de ser preparado. Não requer utilização de água, gás, energia elétrica e embalagens. Por isso, não prejudica o meio ambiente. Além disso, a criança amamentada adoece menos, evitando o uso de medicamentos e internamentos hospitalares.
F de Falso
- Seios muito pequenos não produzem leite na quantidade suficiente para o bebé? Falso.
O tamanho da mama não está relacionado com a produção do leite. Tanto mamas grandes quanto pequenas possuem capacidade de produzir o mesmo volume de leite por dia de acordo com as necessidades do bebé.
- Amamentar durante uma segunda gestação pode prejudicar o desenvolvimento do bebé no útero? Falso.
É possível manter a amamentação numa nova gravidez se for esse o desejo da mulher e se não existirem intercorrências na gestação.
- Para voltar a trabalhar, é preciso obrigatoriamente desmamar o bebé? Falso.
A mãe poderá continuar a extrair o leite antecipadamente e deixá-lo com o cuidador da criança para a alimentar na ausência da mãe, sendo possível reservar leite materno congelado desde que respeite algumas regras para que este se mantenha saudável.
- O leite materno pode ser fraco para nutrir o bebé? Falso.
Não há leite materno fraco. O leite materno apresenta composição semelhante para todas as mulheres que amamentam e é o alimento ideal para o bebé, produzido de acordo com as necessidades específicas daquela criança, sendo recomendado até os dois anos de vida ou mais e sendo exclusivo até ao 6º mês de vida. E não, a partir de 1 ano de idade não passa a ser só água, o leite adapta-se ás necessidades de cada criança conforme a sua fase de desenvolvimento.
- O bebé pode ficar mal acostumado se não tiver horários para mamar? Falso.
A orientação baseada na evidência recomenda a amamentação em livre demanda, ou seja: o bebé deve mamar sempre que desejar.
G de Gastos
Existem diversos benefícios do aleitamento materno, um deles tem a ver com os gastos pois é a opção mais natural mas também a mais económica, sendo que é um alimento exclusivamente concebido pela mãe para aquele bebé, com todos os nutrientes e anticorpos que o bebé precisa, sem necessidade de gastos com leite ou biberões.
H de Hora H!
Para uma amamentação de sucesso é importante ter em conta a importância da primeira hora de vida para se dar início ao aleitamento materno. São importantes o contacto pele a pele, a manutenção de uma pega correta e um bom posicionamento, amamentação em livre demanda, evitar tetinas e acima de tudo a mãe deverá confiar em si, nos seus instintos e no seu bebé.
I de Imunidade
O leite materno contém todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento saudável do bebé, e ainda substâncias imunoprotetoras.
O leite materno é seguro, contém anticorpos que ajudam a proteger a criança das doenças infantis como diarreia, infeções respiratórias, otites. Ajuda também a reduzir o risco de síndrome de morte súbita do bebé, infeções graves com hospitalização, infeções urinárias e refluxo gastroesofágico.
Além destes benefícios imediatos, a amamentação parece contribuir para que, quando adolescentes/adultos, tenham menor probabilidade de desenvolvimento de doenças crónicas como diabetes, doenças cardiovasculares ou doença inflamatória intestinal.
J de já era altura de guardar os comentários desnecessários para si
Decisões sobre amamentação ou qualquer outra escolha em relação ao bebé, apenas dizem respeito aos pais, que podem tomar decisões com o suporte de técnicos de saúde, com base em evidência científica.
Não questione as decisões dos pais relativamente à amamentação se a sua opinião não for solicitada. A Investigação em medicina e saúde evoluiu, descobertas mais recentes levam-nos a novos caminhos suportados por estudos e investigação científica, bem como os pais são quem, em primeira instância, tem capacidade de decidir o que é melhor para o bebé e para a família.
Decisões sobre amamentação não deveriam ser tão questionadas pelos outros, pois apenas impactam e dizem respeito à família nuclear. De qualquer das formas, antes de fazer comentários como “tão grande e ainda mama?” Ou “não lhe dês mama a toda a hora pois fica mal habituado” ou “dá-lhe a chuchinha se não vai querer mamar até aos 20 anos” (…) investigue o que é ou não preconizado nos dias de hoje não falando assim do que não sabe.
K de 1K : A importância dos primeiros 1000 dias do bebé
Os primeiros 1000 dias do bebé compreendem a gestação e os primeiros 2 anos de vida.
Este período é essencial para o desenvolvimento alimentar do bebé pois na gravidez a dieta materna influencia o sabor do líquido amniótico, fatores inatos influenciam as preferências do bebé, as diferenças de sabor do leite materno facilitam a introdução alimentar, a aceitação de novos alimentos e legumes, sendo que o período seguinte até aos 2 anos é rico em crescimento e desenvolvimento de competências alimentares em termos de variedade, sabores e texturas.
O período dos primeiros 1000 dias constitui de facto uma janela de oportunidades ímpares para a otimização do crescimento e desenvolvimento da criança.
L de Livre Demanda
Significa amamentar sempre que o bebé quiser. O bebé será amamentado sempre que sentir fome, seja noite ou dia, sem horário definido. Além disso, irá mamar quanto quiser, até se sentir satisfeito. Deve-se oferecer a mama assim que haja qualquer sinal de fome, pois os bebés mamam melhor se estiverem calmos. Em caso de dúvida, ofereça a mama. O seu bebé vai “dizer-lhe” rapidamente se a quer ou não.
Mamífero
O leite materno é a mais importante e principal fonte de alimento de mamíferos recém-nascidos, incluindo os seres humanos. Fornecedor de nutrientes básicos e necessários para a sobrevivência das crias nos primeiros dias, meses ou mesmo anos. Além da variação de composição, com gorduras, proteínas e outros nutrientes em diferentes valores, a frequência com que as crias mamam não é a mesma entre as diferentes espécies. O tempo de amamentação varia bastante de acordo com cada espécie e a sua relação com a chegada à idade adulta . Por exemplo, os orangotangos, podem mamar até por volta dos 8 anos de idade.
N de Número da Linha SOS Amamentação.
É normal o período de amamentação trazer muitas dúvidas e questões. Procure ajuda especializada sempre que precisar. Existe uma linha a funcionar 24h/dia para o efeito, através dos números 964 020 654 ou 964 020 688
O de OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que as crianças sejam amamentadas exclusivamente nos primeiros seis meses de vida e, em seguida, a introdução de alimentação complementar saudável, adequada e segura, mantendo a amamentação até os dois anos de idade ou mais. As vantagens do aleitamento vão desde a nutrição, a saúde e o bem-estar de uma criança ao longo da vida.
P de pega correta
Para uma pega correta a boca do bebé deve estar bem aberta e a língua sobre a gengiva inferior. O mamilo deve apontar para o céu da boca e queixo deve ser o primeiro a encostar na mama. O bebé deve abocanhar a aréola e não apenas o mamilo, com o lábio inferior e o maxilar cobrindo quase toda a parte inferior.
Na presença de alguma dificuldade ou dúvida procure um profissional especializado.
Q de Qualificado, profissional qualificado
Quem poderá ser então o profissional qualificado para o ajudar com alguma dificuldade ao nível da amamentação?
Deverá procurar alguém com formação específica, nomeadamente CAM - Conselheira em Aleitamento Materno e
IBCLC - International Board Certified Lactation Consultant.
O terapeuta da fala é o profissional apto para avaliar as funções orais, em determinadas situações relacionadas com a amamentação e o seu papel é fundamental na avaliação do bebé, pelo que deverá trabalhar em parceria com a CAM/IBCLC em caso de necessidade. Poderá ainda ser necessário recorrer a uma avaliação por parte da Osteopata em alguns casos, sendo fulcral o trabalho multidisciplinar.
Relação mãe-bebé
A alimentação do bebé através da amamentação contribui para a interação mãe-filho que pode contribuir para reforçar o laço afetivo entre ambos. Para além disso, existem também vantagens específicas para cada um. Amamentar não tem apenas a ver com nutrir, tem a ver com dar e receber, nutrir em todos os aspectos, ou como podemos encontrar na definição do termo: “Alimentar, Nutrir; Dar vida, alento; Dar ou receber mimos”.
Sinais de Alerta
Existem alguns sinais de alerta para questões orofaciais e necessidade de avaliação por um profissional especializado para uma amamentação bem sucedida e feliz, nomeadamente:
- dor mamilar,
- sinais de refluxo,
- muitos gases,
- dificuldade na extração do leite,
- estalidos durante a amamentação,
- parece mastigar o mamilo,
- língua não eleva quando chora,
- dificuldades no aleitamento por biberão,
- frequentemente de boca aberta.
Ou ainda mais tarde:
- alimentação complementar desafiante,
- não mastigar os alimentos,
- recusar alimentos/grupos alimentares,
- empurrar os dentes ao engolir,
- distorcer sons da fala,
- ter a língua muitas vezes para fora da boca.
T de Tetinas e Chuchas
Não, não existem tetinas iguais ou semelhantes à mama materna e não, a utilização de bicos, chuchas e tetinas não é preconizada como a melhor opção podendo ser nefasta para o desenvolvimento orofacial e para todo processo de amamentação, podendo causar , por exemplo, confusão de bicos.
Contudo existem tetinas mais recomendáveis e menos nefastas que outras.
U de Universal
U-N-I-V-E-R-S-A-L. É isto.
V de Vantagens para a mãe
Pode facilitar a perda de peso após o parto e reduz o risco de desenvolvimento de cancro na mama e nos ovários, diabetes e hipertensão.
W de wrestling
À medida que o bebé cresce e ganha competências motoras e cognitivas, o interesse pelo que o rodeia ganha outra forma, sendo que mamar e explorar o mundo por vezes parece um combate de wrestling entre o bebé e a mama, com posições e movimentos desafiadores para um bebé que provavelmente gostaria de ter uma maminha portátil para levar sempre consigo.
X de xeque-mate
Faça xeque-mate às opiniões alheias e decida sempre com base nas SUAS escolhas, os pais sabem o que é melhor para o seu bebé.
Y de yin & yang
Em tudo na vida há que haver equilíbrio! E amamentar não deve ser em esforço, com prejuízo para a mãe em função do bebé. A amamentação deve acontecer quando e enquanto é prazerosa e saudável tanto para a mãe como para o bebé. Outras opções existem e estarão sempre em cima da mesa na impossibilidade da amamentação. Nada existe no estado puro mas sim em transformação contínua e aquilo que poderá ser uma escolha hoje, poderá mudar amanhã e está tudo bem! Uma mulher não é melhor ou pior mãe se amamentar ou não amamentar ou se decidir deixar de amamentar.
Zero aos...que fizer sentido !
Reforçamos: segundo a OMS, o aleitamento materno está recomendado de forma exclusiva até aos 6 meses de idade, após iniciar a introdução de outros alimentos, deve manter-se a amamentação até aos 2 anos ou mais, por isso, não existe certo ou errado após este período. Deve-se manter enquanto a mãe e o bebé quiserem, enquanto for algo positivo para ambos. E não se preocupe, tudo no desenvolvimento infantil acontece no seu tempo, quando as etapas são adquiridas, o seu bebé não vai mamar até aos 20 anos!