O Impacto da Vinculação no Desenvolvimento das Crianças

Ana Filipa Lamelas, Psicóloga • 1 de maio de 2024

O tipo de vinculação que a criança estabelece com a sua figura cuidadora no início de vida, é uma relação modelo que irá guiar a criança no estabelecimento de relações futuras, tendo impacto no seu desenvolvimento emocional e social.

O que é a vinculação e como se processa?

A vinculação é um processo que se estabelece entre a criança e a figura cuidadora, no qual ocorrem comportamentos por parte da criança que visam a procura de proximidade ao cuidador (e.g., sorriso, choro, olhar). Este movimento da criança, quando atendido de forma eficaz pelo cuidador, permite que este se torne a sua base segura, sendo a partir deste laço afetivo que a criança adquire capacidade de explorar o desconhecido, sentindo- se tranquila e protegida para explorar livremente, brincar e satisfazer a sua curiosidade natural.


Como é que a vinculação no início de vida pode afetar o desenvolvimento saudável da criança?

A relação que a criança estabelece com a sua figura de vinculação é um modelo que esta internaliza e o qual a guia nas relações que estabelece durante o seu processo de desenvolvimento, tendo impacto na relação que cria futuramente consigo (p.e., o modo como se percepciona), os outros (p.e., família, amigos, professores) e o mundo (p.e., o modo como percebe os acontecimentos, prevê o futuro e planeia ações).


Deste modo, a relação inicial que a criança estabelece com a sua figura de vinculação é importante, pois esta irá ter influência direta na forma como a criança se aprende a regular emocionalmente e a ser capaz de interpretar e predizer comportamentos, pensamentos e sentimentos, sendo este aspeto central no modo como a criança se irá inserir na sociedade (p.e., processo de socialização com os pares e família). Assim, diferentes tipos de vinculação desenvolvem também diferentes tipo de cognição em relação às relações interpessoais e ao modo como a criança se regula e gere as suas emoções.


O cuidador deve estar atento aos sinais de proximidade da criança, procurando satisfazer as necessidades físicas e emocionais da mesma, o que irá permitir estabelecer uma díade de maior qualidade que terá reflexo no desenvolvimento futuro da criança.


Mas, quais são os comportamentos que um cuidador deve adotar para promover um desenvolvimento saudável na criança?
  • Sensibilidade
  • Cooperação
  • Disponibilidade
  • Aceitação


Cuidadores responsivos e acessíveis, tornam possível que a criança consiga desenvolver um modelo saudável de si própria e dos outros (p.e., amor, respeito, confiança), proporcionando-lhe confiança para se sentir segura a procurar ajuda sempre que se sente em perigo. Por outro lado, cuidadores indisponíveis, aumentam a probabilidade da criança se percepcionar como não digna de receber amor e ter valor, internalizando este modelo que irá transparecer para as suas relações futuras com os outros. Este dado é particularmente relevante, uma vez que crianças que desenvolveram representações negativas sobre si e os outros, apresentam maior probabilidade de desenvolver perturbações psicológicas.


Tipos de vinculação

Existem quatro tipos de vinculação que a criança pode apresentar, sendo esta reflexo e um indicador do modo como a criança viveu e sentiu a sua relação inicial com o cuidador. O tipo de vinculação ajuda a compreender a forma como a criança se sente segura na presença da figura cuidadora, tendo isto influência no modo como explora e brinca:

  • Segura: existe um equilíbrio entre vinculação e capacidade de explorar, a criança consegue sentir-se confortável a brincar na presença de um desconhecido, desde que a sua figura cuidadora esteja por perto, usando-a como base segura de exploração.
  • Insegura-evitante: predomina a exploração sobre a vinculação, a criança não se preocupa onde a sua figura cuidadora está, podendo ou não ficar angustiada quando esta se ausenta. Assim, quando a criança perceciona uma ameaça pode ser confortada tanto pela figura cuidadora como por um desconhecido, reagindo com indiferença à chegada do cuidador.
  • Insegura-ambivalente: predomina a vinculação sobre a exploração, a criança permanece junto da sua figura cuidadora em vez de explorar e está ansiosa mesmo na sua presença. Quando esta figura se ausenta, a criança fica angustiada, podendo no reencontro manifestar desejo de contacto ou resistir ao conforto, não voltando a brincar como antes.
  • Desorganizada: a criança tem ausência de um método para lidar com o stress, o que faz com que tenha diferentes comportamentos, não sendo estes adequados (p.e., comportamentos contraditórios, sem um propósito, confusos, desorientados e desorganizados).


Atenção! É importante o cuidador compreender a necessidade de existir equilíbrio entre responder às necessidades da criança e deixá-la explorar livremente, sendo tão prejudicial a indisponibilidade do cuidador, como a proteção excessiva, estando ambos os comportamentos relacionados com o desenvolvimento de ansiedade na fase infantil e adulta.


Concluindo...

O estabelecimento de uma vinculação segura entre criança e cuidador é fulcral para o seu desenvolvimento saudável, podendo isto ter impacto na saúde mental da criança e na qualidade das suas relações futuras. É importante reter que respostas de maior qualidade às necessidades físicas e emocionais da criança, aumentam a probabilidade de se estabelecer uma vinculação segura, sendo isto um fator protetor para a saúde mental da criança.


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