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O impacto da decoração das salas de aula na aprendizagem da criança

Sofia Silva, Terapeuta Ocupacional • 8 de outubro de 2024

A aprendizagem académica requer o processamento global de distintas informações, a nível cerebral, de forma a contribuir para o desenvolvimento das suas competências subjacentes.

Atualmente, com o aumento do nível de exigência e os desafios presentes no ensino das crianças é essencial compreender quais os fatores que influenciam a sua capacidade para manter o foco nas tarefas escolares (Parmentier, 2016).


A aprendizagem académica requer o processamento global de distintas informações, a nível cerebral, de forma a contribuir para o desenvolvimento das suas competências subjacentes, nomeadamente a atenção, compreensão e organização dos vários estímulos sensoriais. Ao longo deste processo, a visão torna-se um canal sensorial especializado que nos dá constantemente informação e os detalhes do meio envolvente.


Os ambientes educativos dispõem de diversos materiais coloridos e estimulantes, proporcionando o enriquecimento sensorial durante as fases iniciais do desenvolvimento da criança de forma a motivá-la para a participação em atividades pedagógicas. É comum entrarmos em salas de jardim de infância bastante coloridas, com paredes repletas de desenhos, trabalhos manuais, letras e números em tamanho XXL. Contudo, alguns autores consideram que estes espaços são “excessivamente estimulantes e perturbadores” (Stern-Ellran, Zilcha-Mano, Sebba, & Levit Binnun, 2016), tornando-se uma fonte de distração, influenciando o desempenho e produtividade em sala de aula.


Um estudo norte-americano constatou que o excesso de informação visual no espaço de aprendizagem pode ter um impacto negativo nos níveis de concentração dos mais pequenos. Os investigadores concluíram que as crianças retêm menos informação, demonstrando menos capacidade de aprendizagem, quando expostos a espaços fortemente decorados, distraindo-se mais facilmente. Processar todos os estímulos visuoespaciais, discriminando os que não são irrelevantes, é difícil, especialmente na criança onde todos os processos motores, sensoriais e cognitivos ainda se encontram em fase de maturação.


Por outro, se refletirmos sobre as caraterísticas individuais de cada aluno e nas suas necessidades será ainda mais importante explorar o impacto que estes espaços têm, analisando as suas vantagens vs desvantagens. Vejamos no caso de uma criança com uma disfunção sensorial ao nível do sistema visual. Quando falamos em disfunção sensorial, significa que não consegue controlar a sua reação perante estímulos sensoriais, possuindo dificuldade em dar uma resposta adequada em relação à intensidade, natureza ou grau do estímulo. Neste âmbito, se for hipersensível na área visual, deteta os padrões/cores mais rapidamente, mais intensamente ou durante mais tempo que as crianças com processamento normal, possuindo uma atenção hipervigilante, pois tem de atender constantemente ao estímulo do meio, podendo focar-se em informação considerada irrelevante pelos adultos.


Deste modo, ao longo do dia, com a dinamização de atividades a decorrer num espaço sobrecarregado de informação nas paredes, a criança irá ter dificuldade em abstrair-se deste conteúdo, não estando focada na dinâmica proposta pelo Educador. Consecutivamente, determinadas cores ou padrões, numa sala cheia de informações visuais, cria a sala de aula num ambiente desafiador, podendo desencadear reações e/ou comportamento desadequados.  


É assim importante que sejam efetuados ajustes nestes espaços e os professores projetem estrategicamente a decoração garantindo que esta tenha um propósito educacional e não influencie negativamente a produtividade dos seus alunos.

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